MENSAGEM AO CONSELHEIRO JAIME AMORIM

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PROFESSOR JAIME

 

No último dia seis de março, um trágico acidente aéreo nos privou da presença física de uma extraordinária figura humana : o nosso querido Jaime . A notícia de seu falecimento consternou não apenas aos seus familiares, mas também a todos aqueles que gozaram o privilégio de sua convivência. Sua vida, ainda que fugaz, nos deixou profundas e marcantes lições que haverão de iluminar as novas gerações. Foi-se o homem, mas fica seu exemplo.

Num passado não muito distante, em meados de abril de 1971, ele nascia no berço de uma família simples e desfalcada de recursos materiais, porém abundantemente rica de valores éticos, morais e cristãos. Em mais de uma ocasião, falou-me ele das lições recebidas de seus pais e da importância que estes tiveram na escolha acertada dos caminhos por ele percorridos ao longo de sua vida.

Para o primogênito dos filhos de Seu Jaime e de Dona Margarida, foi escolhido o nome de Jaime, que em hebraico significa “o vencedor”. Posteriormente, a família seria ampliada com a chegada dos irmãos Amorim Neto, Jarbas e Margaret.

Jaime não precisou de riqueza para ter uma infância feliz. Morava nas proximidades do Bairro Marquês, em Teresina ,e ali brincava de peteca, tomava banho de chuva nas biqueiras das casas, empinava papagaio, jogava futebol no meio da rua, caçava de baladeira, enfim, fazia tudo aquilo que os tempos de outrora podiam nos ofertar como divertimento.

Muito cedo, identificou o estudo como a única opção que poderia conduzi-lo a patamares sociais mais elevados. Como bom filho e dotado de senso de responsabilidade incomum, ainda muito jovem, começou a dar aulas de reforço para estudantes de escolas particulares. Este foi o jeito que encontrou para aliviar o peso de sua formação no mirrado orçamento familiar.

Fazendo jus ao nome recebido, sua vida foi marcada por incontáveis vitórias. Mesmo tendo cursado todo o ensino fundamental e médio em escolas públicas, logrou aprovação para o concorrido curso de Direito na Universidade Federal do Piauí.

Tão logo concluído o curso superior, após aprovação em concurso público, ingressou no Tribunal Regional do Trabalho e, em seguida, tomou posse no cargo de Conselheiro Substituto do Tribunal de Contas. Também foi aprovado em concurso para o cargo de Delegado da Polícia Federal, mas, entusiasta do controle externo, optou por continuar no TCE/PI.

Como se observa, nada lhe caiu no colo, tudo que conquistou foi fruto de muito sacrifício, luta e esforço. Não encontrou à sua frente uma via pavimentada para levá-lo ao sucesso profissional. Para chegar lá, precisou escalar as mais íngremes e intransponíveis montanhas.

Foi também um professor brilhante e um apaixonado pelo ensino. Ouso afirmar que era no magistério que ele se realizava. Não obstante ter tido a oportunidade de, por mérito próprio, ocupar cargos importantes e de desempenhar funções as mais relevantes, era, efetivamente, a arte de ensinar que o fascinava.

Alegrava-se quando alguém o chamava de professor. Seu rosto iluminava-se de uma forma inexplicável. Gostava tanto de assim ser chamado que comumente chamava a todos, indistintamente, de professor, como que compelindo seus interlocutores a conceder-lhe igual forma de tratamento. Não armazenava dentro de si seus vastos conhecimentos e ricas experiências, sentia um prazer induvidoso ao transmitir o que aprendera. Não era um homem afeito ao somar, mas ao dividir.

Na seara do magistério, foi professor na Faculdade Santo Agostinho e, atualmente, era professor concursado do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Era, ainda, instrutor da Escola de Gestão e Controle do TCE/PI.

Em todos os cargos e funções que exerceu era perceptível o seu profissionalismo, dedicação e a inexcedível vontade de servir. Destacou-se no Tribunal de Contas não apenas pela erudição de seus votos e pela importância de seus pronunciamentos, mas também por sua simplicidade, equilíbrio e serenidade.

Lembro-me de quando cheguei ao TCE/PI e do nosso primeiro encontro. Fui acolhido com a cordialidade que lhe era inata. Com o passar dos anos, de colega de trabalho passei a incluí-lo no meu reduzidíssimo rol de amigos e daí, fruto de reiteradas demonstrações de companheirismo e lealdade, passei a tê-lo como um irmão afetivo.

Lembro-me dos almoços das sextas-feiras. A princípio, reuníamos ele, eu e o Abelardo no Restaurante Carnaubinha. Depois, este grupo foi aumentando e alteramos o local para o Metropolitan Hotel e, posteriormente, para o Favorito Grill. O almoço era apenas uma desculpa. Na verdade, gostávamos daqueles momentos que passávamos juntos, daquela conversa jogada fora.

Cerro os olhos e vem à minha retina sua imagem com aquele sorriso característico, com seus olhos moleques e com sua cativante simpatia a nos contar casos e mais casos interessantes de seu passado. Ah, bons tempos aqueles que jamais voltarão a acontecer.

Lembro-me de suas caminhadas pelos corredores do tribunal a conversar com um e com outro, a entrar em meu gabinete para deixar uma palavra amiga, um gesto de afeição, uma demonstração de solidariedade.

Lembro-me da grande admiração, respeito e amizade que seus assessores de gabinete – Nonatinho, Odilon, Sonia e Julia – devotavam ao seu chefe e amigo.

Lembro-me das reuniões em seu gabinete e das suas brincadeiras com o Luciano.

Lembro-me de nossas viagens pelo Tribunal de Contas, nas quais eu o tinha como parceiro habitual.

Lembro-me de amigos seus que, ao vê-los agora, projeta-se em minha mente a sua imagem, como é o caso do Rafael do TCE/SE, do Sérgio Honório, do Jonas e do Alípio.

Lembro-me do seu jogo de damas nas tardes de sábado com seus amigos de infância, os quais jamais foram por ele esquecidos.

Lembro-me do começo de seu namoro com a Juliana, de sua alegria irradiante no dia de seu casamento, de sua realização quando do nascimento do André Luiz.

Lembro-me do quanto estava feliz nos últimos dias de sua existência física.

Desse modo, por tantas lembranças, por tantos bons momentos vividos, por tantas lições recebidas, não concebo que o Jaime tenha morrido, pois não morre quem continua vivo em nossas mentes e em nossos corações.

Por tudo que representou para o Tribunal de Contas, recebi com incontida satisfação a iniciativa do Presidente Kennedy Barros de dar ao prédio-sede de nossa Corte de Contas o nome de Edifício Conselheiro Jaime Amorim Júnior. Esta decisão apenas faz justiça àquele que, por sua competência, honradez e dedicação, já havia inscrito seu nome em cada tijolo daquela construção.

Ao chegar ao final, devo admitir que, por mais que tenha tentado externar com palavras a extraordinária personalidade que foi o Jaime, não o consegui. Assumo a minha absoluta incapacidade de fazê-lo, visto que não traduzi fielmente tão excepcional caráter.

Para alcançar este objetivo – de retratar com fidelidade seu perfil -, penso que o melhor é lembrarmos, nós todos, dos momentos que vivenciamos ao seu lado. Cada um, ao seu modo, haverá de formar uma idéia mais precisa e real do que ele em verdade era, pois, para isto, as lembranças são mais expressivas do que as palavras.

Que Deus conforte os seus familiares e o receba em seu reino celeste. Que assim seja.

Muito obrigado.

 

JACKSON NOBRE VERAS

 

Conselheiro Substituto do TCE/PI